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28 de mai. de 2014

De que lado estar?

Assumir-se perante a sociedade - e ainda mais impactante, perante amigos e família - não é uma tarefa fácil, mesmo hoje em dia, quando a homofobia persiste, por motivos de puro preconceito, ou por viés religioso ou ainda por convenções sociais. Cada um tem seu tempo de se assumir...ou então vive-se no armário para sempre. Escolher o caminho a se seguir é o que bota na mesa o divertido filme "Do lado de fora".



A sinopse é simples: após uma confusão ao final da Parada Gay de São Paulo, quando dois amigos, Mauro e Rodrigo, e o tio do primeiro, também homossexual, presenciam um ato de homofobia, prometem que vão sair do armário até a próxima edição da Parada. Cada um dos envolvidos tem suas nuances, e seus conflitos dentro ou fora de casa.

Não me aterei aqui a julgar se o filme se aprofunda ou não no assunto, nem criticar pontos que muitos blogs e sites o fazem bem melhor, se ele se prestou a abordar o assunto de forma bem séria ou didática ou ainda mesmo se ele consegue explicar tudo que o tema pode render, pois nem toda obra o conseguiria fazer, ainda mais um filme que se preza em ser uma comédia, leve, reflexiva, mas não totalmente argumentativa.

O que me interessa falar é que ao longo da película podemos ver os diversos tipos de armários podemos encontrar por aí: o jovem que super se aceita, quer ser uma drag queen, é pintosa sem medo de ser feliz, mas em casa, onde os pais são evangélicos fervorosos, ele precisa se policiar um pouco, por medo de represálias e também por receio de ser engolido pela religião dos pais; seu amigo, que se aceita, mas não consegue se destravar para tentar algum envolvimento com um garoto do qual ele está a fim no colégio; o tio de Mauro, bem-resolvido, solteiro, mas que esconde sua homossexualidade na firma com medo de que o chefe não o aceite por isso; e o agredido na Parada, um rapaz que é casado, tem filho, mas que está infeliz nessa vida, porém não quer largar a esposa e o filho e deixar a vida deles devastada.

O filme consegue fazer rir, com todos os dilemas e aventuras desses quatro enquanto eles vão se redescobrindo e tentando sair do armário de acordo com o pacto que eles fizera, e de como suas vidas se redesenvolvem à medida que a autoconfiança melhora, mesmo com alguns reveses familiares ou no trabalho - os quais não vou dizer, pois entregam muito do filme.

Luiz Fernando Vaz, que faz Mauro, o jovem que sonha em se tornar uma drag fabulosa, consegue entregar uma atuação divertidíssima de um jovem pintoso, orgulhoso de sua personalidade, e não cai no lugar comum de ser uma pintosa apenas gritando, gesticulando ou brincando de ser mulher - seu personagem tem uma personalidade divertida, sincera, aventureira, e desafiadora, e muito amiga, ao estimular seu amigo Rodrigo a ir atrás do bofe do colégio. Com certeza o melhor personagem de todo o filme.

Marcelo Airoldi, que faz o tio de Mauro, tem cenas que mostram o dilema do personagem em lidar com o homem casado - pois eles acabam tendo um caso - com o sobrinho alegre que sofre em casa, e com o trabalho, pois com tantas mudanças lá dentro acha que precisa criar um casamento hetero de fachada com sua amiga lésbica.

No fim, o filme não traz um final surpreendente, exceto por um dos personagens, e também não entrega uma conclusão acerca do sair ou não sair do armário. Mas nos faz pensar que nem todos têm a chance imediata de se assumir para a sociedade, seja por qual for o motivo, e que ser gay na sociedade ainda pode parecer algo clandestino.

2 comentários:

  1. Eu custei mas aos 30 anos chutei o balde literalmente para família, para amigos, para trabalho ... a melhor coisa q eu fiz na vida ...

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    1. Depois de tanto tempo isso sufoca a gente, quando a gente só quer viver nossa vida em paz...e devia de ser ainda mais tortuoso em seu tempo, né, Bratz?

      Mas tem gente que consegue - ou lida de certa forma - viver dessa maneira, escondido, até o fim da vida...

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