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23 de jun. de 2013

Jardins secretos

Havia uma semente largada sobre a mesa. Não se sabia que frutos ela daria, caso plantada. Mas qual o mal em deixá-la florescer? Seu jardim estava quase morto, sem cores, sem vida, apenas com ervas-daninhas, aquelas que consumiam a energia e os recursos de sua vida. Quando se sentava frente a ele, não sabia como reagir, o que fazer, o que plantar, o que extirpar dali.



"O que eu quero que nasça aqui?", pensava. Eram tantas cores que faltavam em sua visão que às vezes se perdia em um misto de arco-íris e de caleidoscópios cintilantes. Eram muitas luzes, muitos sonhos, muitas vontades a se realizar, mas o solo estava pobre, seco, quase afundando e perdendo sua força. Passou anos vendo todo tipo de botânica querendo se expandir naquele espaço, algumas com sucesso, outras sendo podadas ao longo do tempo.

Foram vários tempos em que nasceram folhas verdes, flores fortes, que em diversos momentos eram cortadas ou pisadas, para dar lugar a outras espécies malignas, enfraquecedoras, sugadoras da energia que aquele solo proporcionava a seus habitantes. Fazia tentativas e tentativas de conseguir eliminar aqueles danos, aquelas plantas que consumiam as outras ou consumiam seu tempo, e só pensava "Como posso plantar algo aqui?"

"Como criar algo aqui? Toda vez que tento, vem alguma chuva, alguma seca, alguma daninha, alguma invasora, que me tira a alegria de regar meu jardim, de conseguir fazê-lo florescer, brotar sua verdadeira cara, de dar valor a seus nutrientes, a suas raízes e a suas matérias. Por anos vi passos destruindo mudinhas que queriam ver o sol de perto; vi machados cortando o tronco de plantas já crescidas, a fim de dar espaço a casas sem cor, sem espírito, sem jardim; ajoelhei-me e me fundi à terra, buscando uma forma de me associar ao ambiente, ao passado, presente e futuro; enfim, desisti por um instante e fui descansar."

Um dia resolveu que nada mais adiantaria, que o melhor era se acostumar ao novo ritmo, às novas daninhas, e simplesmente tentar dali fugir, ou ali ficar e ver somente o lado bom das coisas, pois com as ruins aprende-se porém não se atua...

E ainda olhando para aquela semente. Passou-lhe um amigo, que dizia que não plantar é pior que deixar o jardim morrer. Afinal, se ele morresse, não foi por falta de tentativa, mas se há uma chance, por que não regá-la e cultivá-la?

E a nova semente começou a crescer desenfreadamente: ramos e ramos começaram a nascer e a fluir jardim adentro e afora, folhas de variadas cores, formas e tons invadiram seu espaço e o dos outros, e as daninhas começaram a se sentir ameaçadas.

"Ainda restam algumas, mas espero que elas se eliminem já"

Seu medo? É que essa árvore cresça de forma tão desigual que logo alguém vai querer freá-la e moldá-la de um tipo universal, programado e esteticamente correto.

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