- Eu tenho raiva de gente grande...Cada pergunta besta!
(...)não havia nada mais maçante que visita de gente grande.
Em primeiro lugar, tirava-lhes toda a liberdade.
- Não faça barulho agora! Não fale alto assim! Não vê que tem visita?
Em segundo lugar, os mais velhos arrancavam-nos os jogos e brinquedos.
- Como é que você se chama?
- Paulinho...
- De quê?
Era preciso dizer todo o sobrenome. Ou então era outra a curiosidade.
- Que gigiante! Quantos anos você tem? Seis? Mas está um homem! Daqui a pouco você está avô, seu Teixeira!
Tudo aquilo só tinha um significado: brinquedo interrompido, desperdício de tempo.
- Posso ir brincar outra vez?
- Vão, mas não façam barulho. Tenham maneiras.
Mas o mais irritante era sempre aquele interesse pelo futuro:
- Você vai ser o quê?
(O feijão e o sonho)
Sei lá o que serei...tenho apenas seis anos...só penso em doces, brincadeiras, lições de casa, ver desenhos...só penso nas férias que estão por vir.
Por que todo adulto quer saber o que a criança vai ser quando crescer? O mais óbvio é: "Grande"...o que mais seríamos?
E por que falar com linguagem de forma que pareçamos ETs? Mimimimim, glugluglu, bilubilubilu...eu vou entender isso? Eu entendo é "Almoço tá pronto!", "Vem tomar banho!", "Desliga essa TV, moleque!", "Vai fazer a lição moleque!", e muitas outras frases de esporro...sempre com um "moleque!" sonoro, claro.
Será que serei médico, advogado ou engenheiro? Hoje em dia há infinitas profissões, infinitos cursos, infinitas universidades...e os pais sempre me pondo para nadar, fazer inglês, ginástica, hidroterapia, um psicólogo porque a professora sugeriu...e os brinquedos ficando de lado...
Parentes que nunca vi, amigas de mamãe que nem conheço me elogiando, dizendo que cresci, estou um homem...e eu perdendo a vida lá fora...
Mas Bertinho não fazia questão de ser rico. Na realidade, seu sonho era ser maquinista, dirigir o Trem do Anil
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